outubro 22, 2017

Planejar para fotografar

Boas fotos de viagem são aquelas que vão além do simples registro documental e conseguem transmitir o clima de um lugar, evocam sensações. É este tipo de imagem que um fotógrafo profissional que trabalha nessa área busca fazer. Se tiver liberdade para trabalhar, sua matéria-prima serão todos os grandes temas da fotografia: a paisagem, o retrato (formal ou instantâneo), a arquitetura, a vida selvagem e o still-life. Em outros casos, poderá estar pautado por um cliente, ou por si mesmo, e irá viajar com um propósito específico, como por exemplo, retratar a gastronomia local, os bares mais bacanas, as paisagens de um parque nacional, o trabalho de um certo grupo de pessoas… Seja qual for o estilo da viagem e a pauta da reportagem, tudo sempre começará na pesquisa detalhada do destino.

O primeiro passo é pesquisar tudo o que puder sobre o lugar. Descubra qual é a praia mais bonita, os passeios mais procurados, monumentos importantes, museus imperdíveis, comida típica, dança tradicional, eventos culturais… Se souber de antemão quem será o seu guia no local, ligue para conversar com ele e descobrir questões de logística que precisarão ser previamente estudadas, como as distâncias de cada atração ou a necessidade de veículo 4×4. Em seguida, pesquise fotos do lugar nos bancos de imagens internacionais. Pode ser o Corbis (www.corbis.com), o Shutterstock (www.shutterstock.com) e o iStock (www.istock.com). Se você estiver indo para um lugar de praia veja fotos de praia, se for para um deserto, procure fotos de deserto. Vão servir de referência e ampliar seu repertório visual.

A pesquisa ainda continuará mesmo depois de chegar ao destino. Olhe os cartões-postais vendidos nas lojinhas, pois eles podem ajudá-lo a descobrir mirantes e ângulos interessantes. Converse com as pessoas (o recepcionista, o barman, o atendente da agência de turismo…) e pergunte quais são os lugares que eles mais gostam do lugar. A pesquisa prévia permitirá a escolha da data certa para a viagem. Isso é extremamente importante porque algumas atrações, muitas vezes as principais, só acontecem em datas bem específicas. Por exemplo: as piscinas naturais da Praia de Taipús de Fora, na Península de Maraú, na Bahia, ou as piscinas naturais de Maracajaú, no Rio Grande do Norte, são podem ser vistas em semanas de lua cheia ou de lua nova. Pois é apenas nesses dias que a maré abaixa mais e os arrecifes de corais emergem. Se for semana de lua minguante ou crescente não haverá piscina natural.

Outros exemplos: as praias do Rio Tapajós  só surgem a partir de setembro, com a vazante do rio, que coincide com festival foclórico mais tradicional do Pará, o Sairé, em Alter do Chão. O facho de luz que entra pelo Poço Encantado, uma das imagens mais famosas da Chapada Diamantina, só acontece entre maio e agosto, e entre 10h às 13h. Ou seja, estar no lugar certo e na hora certa não é mera questão de sorte. Quanto melhor se planejar mais “sorte” o fotógrafo terá.

Se o destino for um Parque Nacional então, a preparação deve incluir pedido de autorização para tomada de imagens junto a diretoria do parque. É burocrático. Pedem para preencher cadastros e explicar a finalidade do trabalho. Mas só assim para poder ir a lugares onde a visitação é normalmente proibida e entrar no parque em horários que eles estão fechados para turistas convencionais.

Tome o exemplo da Gruta da Lagoa azul, em Bonito, a principal e mais visitada atração da região. Existe um rigoroso controle de visitação no local: de número de visitantes e de tempo de permanência. Os turistas em grupos de, no máximo, 20 pessoas devem entrar em fila indiana por uma trilha e só podem ficar dez minutos lá dentro porque há outros grupos esperando. Para piorar, é proibido levar tripé. A solução é enviar previamente, semanas antes, um pedido de autorização para o ICMbio, que administra a visitação na gruta, para poder levar um tripé e permanecer mais tempo para fazer as fotografias.

Sempre que possível vale a pena averiguar a possibilidade de fazer fotos aéreas. Verifique se há um aeroclube local e ligue para saber se há algum passeio panorâmico, ou mesmo se existe a chance de fazer um voo privado para fotos aéreas. Pode ser helicóptero, avião monomotor (os de asa alta são os mais indicados), ultra-leve, flyboat e até parapente. Fazer fotos aéreas enriquece bastante o trabalho final. Tente adquirir um drone, o que irá enriquecer bastante suas possibilidades fotográficas.

Com todas as informações pesquisadas, chega o momento de elaborar um roteiro dia a dia da viagem e uma lista de fotos que você pretende buscar. É importante não montar um roteiro muito apertado, mas reservar tempo para cada passeio e lugar. Esse será o seu “plano A”. Ele pode ser adaptado diversas vezes conforme os imprevistos (questões climáticas ou porque você resolveu voltar em certo lugar em outro horário e condição de luz). Exemplo: se você estiver em Madri e planeja ir à Praça do Oriente certa manhã, mas o dia amanhece chovendo, mude os planos e explore as fotografias em ambientes internos – museu, tabernas interessantes, comida típica… A pesquisa prévia detalhada do destino é um passo fundamental para o sucesso de uma reportagem de viagem.

 

 

RECENT POSTS